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Mães solo enfrentam jornada dupla e esbarram na lentidão da justiça

  • Foto do escritor: Magaiver Dias
    Magaiver Dias
  • 11 de mai.
  • 3 min de leitura

Diante do abandono paterno e da ausência de políticas públicas efetivas, milhões de mulheres brasileiras assumem sozinhas a responsabilidade pela criação dos filhos. Além das tarefas diárias e da sobrecarga emocional, essas mães ainda enfrentam um sistema judiciário lento e inacessível, dificultando a garantia dos direitos das crianças.


Segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), cerca de 11 milhões de brasileiras eram responsáveis, sozinhas, pela criação dos filhos em 2022 — um dado que revela a dimensão de uma realidade marcada por desigualdade e invisibilidade social.


Cibele*, de 26 anos, é uma dessas mulheres. Mãe de um menino de cinco anos, ela trabalha fora por mais de 12 horas diárias, sem qualquer colaboração financeira ou afetiva por parte do pai da criança. Ainda assim, se esforça para garantir momentos de lazer e acolhimento ao filho, especialmente nos fins de semana.


“É a hora em que consigo me organizar melhor e tirar ele da rotina puxada. Tento sempre protegê-lo do estresse que carrego sozinha”, afirmou.

Para ela, o tempo compartilhado com o filho é essencial e, mesmo com os desafios diários, conseguir preservar esse vínculo é uma das poucas recompensas que a rotina permite. “Me esforço para manter esses momentos porque sei que fazem diferença para ele e para mim também.”


Batalhas judiciais sem fim


Cibele move, há três anos, um processo de pensão alimentícia e guarda unilateral pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo. O caso ainda não foi concluído. Na teoria, a decisão poderá garantir pagamento retroativo, mas, na prática, as necessidades da criança não esperam.


A lentidão do sistema é um dos principais entraves enfrentados por essas mães, aponta a advogada Sueli Amoedo, especialista em políticas públicas para mulheres. “Essas mulheres sustentam seus filhos, trabalham, educam e ainda enfrentam preconceito e violência. Precisam de reconhecimento, dignidade e acesso real à justiça”, defende.


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

De acordo com Sueli, as decisões judiciais, quando chegam, muitas vezes não são suficientes para cobrir sequer os custos básicos da criança. Além disso, a desigualdade no acesso à justiça torna o processo ainda mais exaustivo. Em muitos municípios, a Defensoria Pública é inexistente ou opera com infraestrutura precária. “Elas madrugam em filas para pegar uma senha e, mesmo assim, muitas saem sem atendimento.”


Desinformação e suporte limitado


Outro obstáculo recorrente é a falta de orientação jurídica acessível. “Muitas mães solo não sabem por onde começar um processo de alimentos, nem quais documentos são necessários. A falta de informação e acolhimento é mais uma barreira que enfrentam diariamente”, explica Sueli, que também lidera o projeto Justiceiras, voltado ao apoio gratuito nas áreas jurídica, psicológica e social.


Foi por meio desse projeto que Cibele descobriu direitos que desconhecia, como a possibilidade de alimentos provisórios no início do processo e medidas protetivas em casos de violência. Ainda assim, o cansaço e a falta de perspectiva quase a fizeram desistir da ação judicial.


Rede de apoio entre mulheres


Em momentos de necessidade, Cibele recorre à própria mãe, também mãe solo, que criou dois filhos sozinha. “Ela sempre está presente. Ontem mesmo levou meu filho ao médico porque não consegui sair do trabalho a tempo”, contou.


Do pai da criança, o apoio é quase inexistente. “Às vezes, tento pedir ajuda, mas nunca dá em nada. Ele sempre tem uma desculpa. Quando surge um imprevisto, ele simplesmente não se dispõe.”


A história de Cibele reflete a realidade de muitas mães brasileiras que, apesar da solidão, da exaustão e das dificuldades, seguem lutando por justiça, cuidado e dignidade para si e seus filhos.


*Nome fictício para preservar a identidade da entrevistada.

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